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“A busca de uma nova orientação no exílio”


Marlen Eckl

Este foi o tema do simpósio da Sociedade Norte-Americana para Estudos sobre o Exílio (North American Society for Exile Studies), realizado nos dias 10 e 11 de outubro de 2008 e organizado pelo Professor Reinhard Andress da Saint Louis University (SLU) de St. Louis, Missouri/USA. Cientistas de diversas partes dos EUA, da Alemanha, Áustria, Franca e Croácia se reuniram para discutir a questão da busca de uma nova orientação pelos intelectuais, escritores e outros artistas, depois da experiência radical do exílio. Em suas palestras, ilustraram as diferentes características dessa busca.
O simpósio foi introduzido com uma sessão sobre a Idade Média: Otto Eberhardt (Universidade de Würzburg), Ray Wakefield (Universidade de Minnesota) e Evelyn Meyer (Universidade de Saint Louis) evidenciaram que a experiência do exílio não se cinge apenas ao século 20, mas que também ocorreu em outras épocas. Na sessão seguinte, Wulf Koepke (Professor emérito da Texas A & M University), Regina Weber (Arquivo Alemão de Literatura de Marbach), Jörg Thuneke (Academia Alemã-Ocidental de Comunicação) e Johannes Evelein (Trinity College) usaram os exemplos de Ludwig Marcuse, Raymond Klibansky, Karl Jacob Hirsch e Paul Tillich para ilustrar a busca de novos rumos numa perspectiva filosófico-religiosa.
A tarde do primeiro dia foi dedicada ao exílio em St. Louis. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer partes do espólio de Kurt von Schuschnigg, guardado na Pius XII. Library da SLU. John Waide (Saint Louis University Archives) explicou de que forma a universidade se tornou proprietária do espólio do último chanceler austríaco antes da anexação ao Terceiro Reich em 1938 – o qual, depois do final da guerra, trabalhou como professor na SLU entre 1948 e 1967. Já Egon Schwarz (Professor emérito da Washington University), austríaco fugido do nacionalsocialismo, relatou o seu memorável encontro com Kurt von Schuschnigg em St. Louis e a troca de reminiscências austríacas acompanhadas de uma garrafa de vinho de Gumpoldskirchen. Em seguida, Paula Hanssen (Webster University) falou sobre Elisabeth Hauptmann (colaboradora de Bertold Brecht) e seu exílio naquela cidade. Guy Stern (Professor emérito da Wayne State University) falou sobre os seus tempos de estudante na SLU enquanto refugiado do nazismo. A visita ao Museu de Arte de Saint Louis guiada por Sydney Norton e Lynette Roth (Saint Louis Art Museum) foi uma oportunidade para os cientistas de conhecerem a maior coleção do mundo de desenhos e quadros de Max Beckmann, artista que também se exilou em St. Louis de 1947 a 1948, onde ensinou na Washington University.
O segundo dia do simpósio começou com uma sessão sobre os primórdios da pesquisa sobre o exílio. Brita Eckert (Arquivo Alemão sobre o Exílio da Biblioteca Nacional Alemã 1933-1945) documentou a criação do arquivo sobre o Exílio na Alemanha. John Spalek (Professor emérito da State University of New York at Albany), por seu lado, expôs o desenvolvimento deste ramo da pesquisa nos EUA. Wulf Koepke explicitou os bastidores do anuário internacional Exilforschung (Pesquisa sobre o Exílio), publicado desde 1983 e do qual é um dos editores. Guy Stern falou sobre a relevância da história oral no âmbito da pesquisa sobre o exílio. Por fim, Egon Schwarz, a partir do seu livro de memórias (Unfreiwillige Wanderjahre), exemplificou os problemas que podem surgir quando se tenta divulgar a vida e a obra de emigrados menos conhecidos para um público mais amplo. No debate que se seguiu, todos foram unânimes em concordar que a investigação do exílio na América Latina ainda é um dos objetos que devem merecer mais atenção por parte dos pesquisadores.
A busca de uma nova orientação no nível literário foi abordada em outra sessão por Gregory Divers (Saint Louis University), Romana Trefil (Universidade de Wien) e Susanne Utsch (Radio Berlin-Brandenburg) a partir dos exemplos de Felix Pollak, Lion Feuchtwanger e Nelly Sachs e suas obras.
À tarde, a busca de novos rumos política e/ou cultural esteve em foco, e a primeira sessão tratou do exílio na América Latina. Marlen Eckl (Universidade de Wien) mostrou como Otto Maria Carpeaux trilhou um caminho que fez do apólogo clerical do austrofascismo e austríaco leal um simpatizante de uma política mais esquerdista, um brasileiro por convicção e um “homem sem religião”, segundo Helene Carpeaux. Já Helga Schreckenberger (Universidade de Vermont) partiu da autobiografia de Egon Schwarz para mostrar a sua trajetória incomum no exílio boliviano. Reinhard Andress mostrou como Benno Weiser Varon, que fugiu para o Equador, se transformou de simpatizante passivo em ativista do sionismo.
Na segunda sessão, Margot Taureck (Ecole Polytechnique in Palaiseau) e Dieter Adolphs (Michigan Technological University) se utilizaram dos casos de Walter Hasenclever e Thomas Mann para exemplificar a busca de novos valores no exílio na Franca e nos EUA. Susanne Wiedemann (Saint Louis University) mostrou como jovens refugiados alemães judeus de Shangai se orientavam pelos EUA, e Karl-Heinz Füssl (Technische Universität Berlin) evidenciou as dificuldades para aqueles que voltaram à Alemanha nos pós-guerra e a política da des-nazificação (Entnazifizierung).
O simpósio foi encerrado com um jantar na Samuel Cupples House, uma casa particular do século XIX pertencente ao empresário do mesmo nome. Ela fica no campus universitário e é atualmente um museu que abriga uma valiosa coleção com numerosas obras de arte. Os editores Wulf Koepke e Jörg Thunecke entregaram a John Spalek uma publicação comemorativa de seu 80º aniversário intitulada Preserving the Memory of Exile (Edition Refugium, Nottingham 2008). O toque cultural foi dado por uma seleção de canções da Hollywoods Songbook de Hanns Eisler, executada pelo tenor David Steinau (Susquehanna University), acompanhado pela pianista Rachel Jensen (Illinois Wesleyan University). Os participantes do simpósio se despediram com a certeza de estarem levando uma visão interessante e importante sobre a “busca de uma nova orientação no exílio” durante os dois dias do encontro excelentemente organizado pelo Reinhard Andress.

Marlen Eckl, outubro de 2008